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Marilyn Manson (Foto: Getty Images)

Marilyn Manson (Foto: Getty Images)

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Uma investigação de nove meses publicada no final de semana pela edição dos EUA da revista Rolling Stone acusa Marilyn Manson de manter em sua casa uma espécie de câmara de vidro à prova de som que utilizava para assediar mulheres e mantê-las presas contra a sua vontade. Ex-namoradas e funcionárias acusam o músico, cujo nome real é Brian Warner de trancá-las ali por horas para "puni-las" por comportamentos que desaprovava. Ele chamava o cômodo de "quarto das meninas más". 

Diversas pessoas relatam terem sido mantidas no cômodo, uma espécie de box, do tamanho de um provador de loja, que originalmente serviria para gravações de voz. Desde a publicação do texto, entrevistas antigas em que Manson faz referência ao quarto foram republicadas nas redes sociais. Durante uma entrevista concedida há dez anos, o músico já teria mostrado o cômodo a um jornalista da V Magazine que o descreveu como: "uma espécie de boz de chuveiro, ou sauna, que hoje possui tranca e é cercada por vidro a prova de som". 

Segundo uma ex-assistente que o processa por assédio sexuall, Ashley Walters, Warner costumava se gabar publicamente do espaço. Em 2012, o músico já falara do quarto em entrevistas. "Se alguém se comportar mal, posso trancá-lo ali e é à prova de som", ele dizia. Ryan Brown, que também trabalhou com ele por oito anos, disse que todos sabiam do cômodo, mas que não viu mulheres confinadas ali.

Ao todo, segundo a revista, além de três processos, ao menos 10 mulheres apresentaram queixas contra o cantor. Uma delas é a atriz de "Game of Thrones" Esmé Bianco, que processa Marilyn Manson e seu antigo empresário, Tony Ciulla, de estupro. Segundo o seu relato, ela foi trancada em um quarto, além de obrigada a cozinhar, limpar o apartamento, fazer backing vocal não creditado durante a produção de seu álbum "Born Villain". Manson também a teria "oferecido" a seus convidados para sessões de espancamento. 

De acordo com a denúncia, o músico teria violado leis de tráfico de pessoas ao levar Esmé de Londres a Los Angeles com a justificativa de que ela participaria de um videoclipe e de um filme que nunca foram realizados. Ela teria inclusive assinado documentos assegurando sua participação nos projetos.

"Ao chegar, a srta. Bianco soube que não havia nenhuma equipe de produção presente, e que ela deveria ficar na casa do sr. Warner em vez de em um hotel que já havia sido reservado", dis o processo.

"Warner usou drogas, força-bruta e ameaças para coagi-la ao ato sexual em diversas ocasiões", diz o processo, sempre segundo a Rolling Stone. "O sr. Warner estuprou a srta. Biando por volta de março de 2011", segue o texto, em referência ao período em que a atriz e o músico formavam um casal. Em fevereiro, Esmé já havia relatado ter sofrido abuso nesse relacionamento em entrevista à revista New York. 

De acordo com os advogados da atriz, muitos dos abusos teriam acontecido quando ela estava inconsciente, e incluem "tapas, mordidas, cortes e chicotadas" sem concentimento. O processo menciona tanto o cantor como seu ex-empresário, que o deixou após as primeiras denúncias de violência doméstica virem a público no início do ano. Por ter se inserido no processo de obtenção do visto de Esmé, segue a acusação, Warner teria ameação retirar seu apoio caso ela o "desagradasse", prejudicando-a. 

Além de Esmé, a atriz Evan Rachel Wood também acusa Manson de ter sido abusivo durante o relacionamento. Em fevereiro, ela disse, em nota, que foi abusada por ele ao longo do relacionamento que terminou em 2010. "Ele começou a me procurar quando eu era uma adolescente e abusou de forma horrenda de mim por anos. Sofri lavagem cerebral e fui manipulada para ser submissa", escreveu ela em suas redes sociais na ocasião. 

Um grupo de vítimas se reuniu em outubro do ano passado para trocar histórias sobre o que aconteceu. Cerca de três meses depois, Evan faria a primeira denúncia pública.

"Estou cansada de viver com medo de retaliações e chantagem. Estou aqui para expor um homem perigoso e chamar a atenção de todas as indústrias que permitiram que ele agisse assim antes que ele destrua mais vidas", prosseguiu. Ao lado de Esmé, Evan se tornou uma ativista para a aprovação do Phoenix Act, que visa ampliar os direitos das sobreviventes de violência doméstica. 

Em maio, a modelo Ashley Morgan Smithline detalhou a relação abusiva com o ex-namorado, que segundo ela a enforcou, estrangulou, mordeu e chegou a marcar suas iniciais em sua coxa. "Eu não sabia que era possível ser estuprada em um relacionamento", disse ela à época à revista.

Outra mulher que também processa Manson e tem a identidade preservada descreve que ele a teria derrubado no chão antes do estupro. "Depois, parou na porta e disse: 'Nunca mais me faça fazer isso de novo com você."

À Rolling Stone, o advogado de Manson, Howard King, disse que as acusações são "provavelmente falsas". "O processo [de Esmé] só foi iniciado após meu cliente se recusar a dar dinheiro pela sra. Bianco e seu advogado, que exigiam valores ultrajantes baseados em uma conduta que simplesmente nunca existiu. Vamos vigorosamente contestas essas acusações no tribunal e estamos confiantes de que venceremos."

Já o advogado do ex-empresário, Edwin McPherson, afirma que a tentativa de envolvê-lo "não tem mérito legal e também é ofensiva e absurda. Esperamos ansiosos para contestar formalmente essas alegações frívolas". Ainda de acordo com a denúncia, um ex-assistente de Manson teria discutido com Ciula sobre os "cuidados" com Esmé na ausência do músico.

Além de privação de sono e de alimentação, o processo ainda descreve ocasiões de humilhação pública, eletrochoques e espancamentos. Em fevereiro, Mason defendeu-se das acusações por meio de nota que alegava que "todos os relacionamentos sempre foram totalmente consensuais" e acusou as sobreviventes de "deturpar o passado". O músico acusa, ainda, de haver deturpações e a tentativa de explorar o movimento Me Too.

Para a reportagem, a Rolling Stone diz ter ouvido mais de 55 fontes que conviveram com Marilyn Manson ao longo dos anos, além de documentos judiciais. O departamento de polícia de Los Angeles atualmente investiga as denúncias de violência doméstica feitas em fevereiro. Em comum, as sobreviventes descrevem uma aproximação feita de "elogios e humor" que logo se convertia em um relacionamento abusivo. Quando era ameaçado por elas com um possível término, dizem, ele afirmava que poderia atentar contra a própria vida ou pior. 

Em suas memórias, segue o texto, o músico já teria relatado situações violentas contra uma mulher chamada Nancy, cujo assassinato ele disse ter planejado, mas abandonado, e contra a própria mãe. Fontes ouvidas pela reportagem e que pediram por anonimato relatam que, já no início dos anos 1990, Manson tinha o hábito de mostrar encontros sexuais que ele havia gravado em vídeo. 

Além disso, o músico era conhecido por frequentemente fazer piadas com o tema do estupro, além de comentários racistas. Mais do que isso, muitos afirmam que as referêcias frequentes a regimes totalitátios e ao nazismo, presentes na obra do músico, têm na verdade raízes mais profundas. Às denúncias das mulheres, somam-se relatos de recorrente comportamento abusivo também com a equipe e companheiros de banda. Em mais de uma ocasião, Manson atacou músicos fisicamente, narra a revista.